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Mostrando postagens de março, 2021

DESABAFO

                    Hoje não tem artigo porque não deu tempo. Então vai só um desabafo mesmo que eu não vou nem divulgar em lugar nenhum só pra ver se alguém lê mesmo assim.                 Um dia alguém disse – não sei mais quem foi – que é injusto dizer que o Brasil não tem uma literatura forte na boca do povo porque, na verdade, nossa grande literatura popular é a nossa música. É mesmo verdade que ninguém precisa ter pudor ao chamar Caetano Veloso, Chico Buarque ou Cazuza de poetas. E não é mentira que poesia forma caráter.                 Com Adriana Calcanhotto aprendi a aplaudir rebeldias. Com Ângela Ro Ro aprendi que poesia é uma gota de sangue em forma verbal.                 Com Tom Jobim aprendi a importância de deixar o índio vivo nu sertão. Com Arnaldo Antunes aprendi que luz demais cega.                 Com Baby Consuelo aprendi que o mal é o que sai da boca do homem.                 Com Belchior aprendi talvez a lição mais dura de todas: ainda somos os m

 O DISCO DO SHOW DA PRISÃO

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              Pouca gente sabe, mas o show que foi usado como pretexto para a prisão e para o exílio de Caetano Veloso teve quatro músicas gravadas e lançadas em compacto duplo (que, na verdade, é um disco pequeno, conhecido como 7 polegadas , porém com duas músicas de cada lado). O show acontecia na boate Sucata, no Rio de Janeiro, em outubro de 1968.             Segundo o próprio Caetano Veloso, em entrevista concedida a Jô Soares em 1992, o jornalista de direita Randal Juliano, publicamente e na televisão, o acusou de ter feito e cantado uma paródia subversiva do Hino Nacional Brasileiro neste show na boate Sucata, além de desrespeitado a bandeira brasileira. Segundo as memórias do compositor, o fato de uma obra de arte de Hélio Oiticica, que era uma bandeira, estar no show compondo o cenário pode ter gerado a confusão ou dado “pano pra manga” para a acusação. Essa bandeira trazia a figura de um homem morto no chão sob os dizeres SEJA MARGINAL, SEJA HERÓI. Aqui parece haver um

 JULINHO DA ADELAIDE

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O COMPOSITOR QUE NUNCA EXISTIU             No começo dos anos 1970, a censura estava realmente enchendo o saco do cantor e compositor Chico Buarque. A “mensagem oculta” de Apesar de Você , lançada em compacto em 1970, tinha ficado repentinamente clara para os militares e a execução da canção nas rádios foi proibida. A peça Calabar, o Elogio da Traição também tinha sido proibida depois de completamente montada, pronta para estrear, e o nome Calabar ficou proibido para a capa do disco, que acabou saindo com uma capa completamente branca e com o título Chico Canta , em 1973. A coisa chegou ao ponto de nada do Chico ser liberado mais. As letras das suas músicas eram censuradas sem nem mesmo serem lidas.             Então o negócio foi lançar um disco com canções de outros compositores. Um disco maravilhoso, aliás. É divertido ouvir o Chico interpretando canções que fogem ao estilo arquitetônico dele; e tem as maravilhosas Festa Imodesta , do Caetano Veloso, e Copo Vazio , do Gilb

O ULTRA LP DE JACK WHITE

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                 O artigo de hoje não vem trazer nenhuma informação especial que já não esteja facilmente disponível na net, mas que é um assunto tão legal que merece ser mais comentado e discutido, especialmente para quem tem fetiche pelo objeto disco de vinil: o ultra LP do álbum Lazaretto, de Jack White. Quando ouvi falar dele, já logo toda a minha curiosidade se atiçou para comprar um. Mas antes, no entanto, eu precisava ouvir para saber se, além das “brincadeirinhas” escondidas no LP, a música era boa. E não era. Era foda.             Jack White é um guitarrista e cantor de rock americano que se tornou mais conhecido por ser um dos integrantes da dupla White Stripes, composta por ele (voz e guitarra) e por sua então esposa Meg White (bateria, percussão e vocal), nos anos 2000. Com o fim do casamento, veio o fim da dupla e o início da carreira solo. O álbum de que falo aqui é o segundo álbum solo de White, lançado em 2014, sob o selo de sua própria gravadora, inaugurada em 2001

LOS PANCHOS EM PESSÔA

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                Los Panchos é um trio de música mexicana que na verdade surgiu em Nova Iorque, em 1944, composto por dois mexicanos e um porto-riquenho. O primeiro mexicano chamava-se Alfredo Gil e uma informação interessantíssima sobre ele é que ele é o inventor de um tipo especial de violão chamado Violão Requinto, que tem o braço mais curto, é afinado três tons mais alto e tem uma caixa mais ampla e um som mais brilhante. Esse instrumento até hoje é usado em canções mexicanas, especialmente boleros. O segundo mexicano chama-se Chucho Navarro e parece ter se tornado também o “apresentador” do grupo, com sua personalidade espirituosa e seu jeito brincalhão de conversar com a plateia. O porto-riquenho chamava-se Hernando Avilés e foi substituído por vários músicos, entre eles Johnny Albino, em 1971, também de Porto Rico, e é desse período o disco de que trata este artigo. Todos os três tocam violão requinto e cantam simultaneamente.                  Los Panchos em Pessôa é um disco

O ELO PERDIDO DA MÚSICA ELETRÔNICA?

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                 Eu não sou jornalista, ne m crítico de música, nem músico, nem fã número 1 de música eletrônica. No entanto, gosto muito de música (especialmente MPB), coleciono vinis e sou fã de alguns artistas de música eletrônica, como Kraftwerk ou Daft Punk . E alguns anos colecionando discos me trouxe algum conhecimento. Acontece que, tentando superar a crise que deve ter diminuído a qualidade de vida de todos os brasileiros, concluí que, além de comprar discos, eu também poderia vendê-los. A ideia original era sacrificar alguns dos meus favoritos que eu sabia que valeriam mais, mas resolvi começar por alguns que eu tinha repetidos ou de que eu não gostava tanto. Foi então que descobri que tinha uma fortuna dentro de casa e comecei timidamente a ganhar um dinheirinho vendendo disco. Dinheirinho suficiente até para comprar mais discos, tanto para revender quanto para guardar.                 Neste processo, que eu não vou detalhar aqui, acabei com uma cópia de um vinil que me s