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TODAS AS MULHERES DO MUNDO

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          Segundo sua própria biografia, Rita Lee estava passando um momento complicado da sua vida em 1993, especialmente em relação às drogas, e mais especialmente ainda em relação ao álcool, a pior droga de todas. Tendo saído do Bossa ‘n’ Roll , show e disco calminhos voz e violão em que revisitava seus maiores sucessos (e alguns de outrem) em arranjos bossa-nova sem a ajuda do fiel escudeiro e marido Roberto de Carvalho, Rita estava até morando sozinha para dar uma folga pra família. Lembro-me ainda hoje da vez em que passou mal e foi internada em coma, dois anos depois, algumas semanas antes de abrir para The Rolling Stones no Rio de Janeiro. Isso foi bem explorado pela imprensa, inclusive como algo pitoresco. “Eu comi bolo e tomei um chá de trombeta de anjo, mas acho que foi o bolo que fez mal”, dizia Rita na Globo com os cabelos vermelhos bem arrepiados. Todos rimos.      Pois foi em 1993 que, quase separada de Roberto de Carvalho – embora não propriamente separada –, Rita n

DOIS CAPÍTULOS DA HISTÓRIA DA MÚSICA ELETRÔNICA

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            Da imensidão de fãs da música eletrônica que lotam raves pelo mundo, poucos sabem que a música eletrônica, no começo, era coisa de compositor clássico, ou, para os mais chatinhos, erudito. Compositor treinado em uma escola de música rígida. Apesar de a informação poder chocar algum desavisado no século 21, não é propriamente algo de se espantar. Sendo uma prática relativamente recente, uma vez que só começamos a ligar aparelhos na tomada no século passado, era preciso que alguém realmente soubesse o que estava fazendo quando tentasse transformar elétrons em sons minimamente agradáveis. Foi assim que se tentou de tudo, do teremim ao liquidificador.             Uma das páginas mais importantes dessa história diz respeito a uma pessoa trans. Olha que curioso! Walter Carlos, um dos pioneiros na composição eletrônica, virou, depois de já famoso, agora famosa, Wendy Carlos. E vida que segue. Mas, antes de Carlos, vamos falar de Moog. Robert Moog foi o americano que basicame

25 ANOS DE MARIA BETHÂNIA

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              A contar do primeiro álbum, lançado em 1965, 1990 foi o ano em que Maria Bethânia comemorou 25 anos de carreira. Um quarto de século, para a filha da festeira Dona Canô, foi motivo suficiente para comemoração em grande estilo. E assim surgiu o álbum 25 Anos , com sua capa linda figurando uma “deusa de Bali” cedida pela atriz Renata Sorrah (segundo informação no encarte), os nomes da cantora e do álbum em letras douradas, texto do compositor Fausto Fawcet na contracapa, um encarte enorme e um disco recheado de participações especiais que fizeram da sua sonoridade uma verdadeira coletânea de sons e possibilidades da Música Popular Brasileira.             O álbum inicia com uma abertura ao som forte da Bateria da Mangueira, para dar “de cara” aquela sensação de que o que vem pela frente é grandioso e nenhum pouquinho ordinário. E então um pequeno texto de Mário de Andrade, retirado do poema O Poeta Come Amendoim , dá o tom de brasilidade do disco ao introduzir a belíssim

MARIA

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            Segundo o Wikipédia , o álbum Maria , lançado em 1988  por Maria Bethânia,  e que traz na capa e no conteúdo uma homenagem aos  100 anos da abolição da escravatura no Brasil, foi mal recebido pela crítica por ser muito pretensioso. Na minha opinião, essa recepção crítica nos diz muito mais sobre a qualidade da nossa imprensa do que sobre o disco em si. O disco não é pretensioso, ele é foda. Forte candidato a melhor disco de Bethânia.             O álbum começa com Bethânia cantando à capella que a terra tremeu . E aí entra o grupo vocal sul-africano Ladysmith Black Mambazo, lindamente criando a atmosfera e a cama harmônica sobre a qual Bethânia canta palavras fortes sobre o mundo que Olorum nos deu. Olorum é o deus criador de tudo, do universo aos orixás, associado pelo nosso sincretismo religioso ao próprio Deus. A faixa é, na verdade, um amálgama de duas composições: Ofá , de um compositor chamado Sacramento, e A Terra Tremeu , de Roberto Mendes e J. Velloso. Em outra

UM DISCO INTEIRO SOBRE A MORTE

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              David Bowie , um dos maiores nomes da música mundial, morreu no dia 10 de janeiro de 2016, dois dias depois de completar 69 anos. A perda foi muito sentida pelos fãs porque ninguém sabia que ele estava com câncer já havia um ano e meio. Aliás, praticamente ninguém sabia mesmo, com exceção de pouquíssimos amigos e parentes próximos. Agravou este sentimento o fato de ele ter acabado de lançar, no dia do seu aniversário mesmo, seu último álbum, Blackstar , também conhecido pelo símbolo ★ . E foi aí que descobrimos do que se tratava o álbum.              Mas eu acho que essa história começa em 2004, quando sua tourné mundial do álbum Reality (2003) foi bruscamente interrompida porque o cantor teve um ataque cardíaco no palco. A tourné não foi retomada e pouco se ouviu falar de David Bowie desde então. Consta que Bowie teve, até sua morte, mais seis ataques cardíacos, ou seja, já estava com a saúde debilitada e provavelmente impossibilitado de fazer shows, com exceção de

NARA TROPICAL

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                Nara Leão ficou conhecida como a musa da bossa nova, mas a verdade é que a cantora encarnou muito mais que esse personagem em sua obra. Aliás, poucos bossanovistas se aventuraram por outros ritmos e estilos, pelo menos não tanto quanto a musa da bossa nova. O disco de 1968, conhecido como o disco tropicalista de Nara Leão, é um excelente exemplo disso. Aliás, Nara já figurava entre tropicalistas mais óbvios como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes no seminal álbum coletivo Tropicalia ou Panis et Circencis . Lindonéia , a faixa que Nara canta no Tropicalia , também está presente em seu álbum de 1968. Mesma gravação.                No Tropicalia também ficamos conhecendo uma das características mais marcantes do movimento: a paródia. Mas não é aquela paródia estilo trocar a letra do Hino Nacional por palavras indecentes. A paródia tropicalista é muito mais uma homenagem respeitosa a algum autor de uma geração anterior sem deixar de revelar alguma gra

FILHO DA MÃE

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                Paulo Gustavo nunca lançou nenhum disco e, portanto, é somente a segunda vez que escrevo aqui sem ser sobre vinil. No entanto, eu assisti a um excelente trabalho musical dele com duas amigas e colegas de profissão queridas chamadas Juliana e Kelli. O espetáculo chamava-se Filho da Mãe porque, nele, Paulo cantava com sua mãe, Dona Déa Lúcia, que havia sido cantora na noite, profissão cuja renda, segundo os próprios citados, a ajudou a criar os filhos. Foi muito divertido. O repertório era ótimo e, claro, o show era entremeado de muito humor.             Comecei a acompanhar a carreira de Paulo Gustavo pelo Multishow no 220 Volts , programa hilário que misturava stand up , milhares de caracterizações e entrevistas com populares na rua. Meu episódio favorito era um sobre os sete pecados capitais. Depois assisti a suas divertidíssimas entrevistas no Programa do Jô , da Rede Globo, e acompanhei a série de filmes Minha Mãe É uma Peça .             Paulo Gustavo era hom