DESABAFO
Hoje
não tem artigo porque não deu tempo. Então vai só um desabafo mesmo que eu não vou nem
divulgar em lugar nenhum só pra ver se alguém lê mesmo assim.
Um
dia alguém disse – não sei mais quem foi – que é injusto dizer que o Brasil não
tem uma literatura forte na boca do povo porque, na verdade, nossa grande literatura
popular é a nossa música. É mesmo verdade que ninguém precisa ter pudor ao
chamar Caetano Veloso, Chico Buarque ou Cazuza de poetas. E não é mentira que
poesia forma caráter.
Com
Adriana Calcanhotto aprendi a aplaudir rebeldias.
Com Ângela Ro
Ro aprendi que poesia é uma gota de sangue em forma verbal.
Com
Tom Jobim aprendi a importância de deixar o índio vivo nu sertão.
Com Arnaldo
Antunes aprendi que luz demais cega.
Com
Baby Consuelo aprendi que o mal é o que sai da boca do homem.
Com
Belchior aprendi talvez a lição mais dura de todas: ainda somos os mesmos e
vivemos como nossos pais.
Com
Cazuza aprendi a nadar contra a corrente só pra exercitar.
Com Caetano
Veloso aprendi a não ter medo porque nada é pior do que tudo que eu já tenho no
meu coração mudo.
Com
Chico Buarque aprendi que vai passar.
Com Criolo aprendi que meninos mimados não podem reger a nação.
Com Gilberto Gil aprendi que tudo acaba sendo o que era de se esperar.
Com
Edu Lobo aprendi que, onde quer que eu vá, sei que vou sozinho.
Com
Eduardo Dussek aprendi a brindar cerveja como se fosse champagne.
Com
Elza Soares aprendi que o meu país é meu lugar de fala.
Com
Gal Costa aprendi a gritar o meu nome.
Com Gonzaguinha aprendi a respeitar a memória de um tempo em que lutar por seu direito é um defeito que mata.
Com
João Bosco aprendi que a esperança dança na corda bamba de sombrinha.
Com
Kleiton & Kledir aprendi a fechar a luz e apagar a porta.
Com
Lenine aprendi que é mais além.
Com
Lobão aprendi que a maior expressão de angústia pode ser a depressão.
Com
Los Hermanos aprendi que ninguém mais vai decidir o que é bom pra mim.
Com
Maria Bethânia aprendi a ler poesia em voz alta.
Com Marina Lima aprendi que cada um é único no mundo e nisso todo mundo é igual.
Com
Marisa Monte aprendi que preciso me encontrar.
Com
Maysa aprendi a levantar quando o mundo caiu.
Com
Milton Nascimento aprendi que qualquer maneira de amor vale a pena.
Com
Ney Matogrosso aprendi a ser homem com H. E eu não estou brincando.
Com
Pepeu Gomes aprendi que ser um homem feminino não fere o meu lado masculino.
Com
Paulinho da Viola aprendi que solidão é lava que cobre tudo.
Com
Rita Lee aprendi a remar contra a maré.
Com
Tom Zé aprendi que o jornal é um banco de sangue encadernado.
Com
muitos outros aprendi muitas outras coisas importantes que não me vêm à mente
agora, mas com todos aprendi que a nossa música é recheada de sabedoria, de
conhecimento, de profundidade, de poesia, de dedicação, de verdades dolorosas,
de compreensão, de respeito pelo diferente, de tudo que o Brasil, como nação,
deveria aprender para sair da lama. Um país que tem esse tipo de personalidades
na sua música popular não poderia estar passando pela situação medíocre que
está passando.
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