FILHO DA MÃE
Paulo Gustavo nunca lançou nenhum disco e, portanto, é somente a segunda
vez que escrevo aqui sem ser sobre vinil. No entanto, eu assisti a um excelente
trabalho musical dele com duas amigas e colegas de profissão queridas chamadas Juliana
e Kelli. O espetáculo chamava-se Filho da
Mãe porque, nele, Paulo cantava com sua mãe, Dona Déa Lúcia, que havia sido
cantora na noite, profissão cuja renda, segundo os próprios citados, a ajudou a
criar os filhos. Foi muito divertido. O repertório era ótimo e, claro, o show
era entremeado de muito humor.
Comecei a acompanhar a carreira de Paulo Gustavo pelo
Multishow no 220 Volts, programa
hilário que misturava stand up,
milhares de caracterizações e entrevistas com populares na rua. Meu episódio
favorito era um sobre os sete pecados capitais. Depois assisti a suas divertidíssimas
entrevistas no Programa do Jô, da Rede Globo, e acompanhei a série de filmes Minha Mãe É uma Peça.
Paulo Gustavo era homossexual, a maioria de seus
personagens era do gênero feminino e isso, para mim, se chama
representatividade. Ver um homem homossexual bem sucedido no telão e na telinha
falando abertamente sobre isso, inclusive como algo absolutamente normal e
corriqueiro – que é o que é –, para mim, era a realização de um sonho de
adolescente. Sim. Representatividade importa. E Paulo Gustavo era amado,
admirado, assistido e bem comentado por praticamente todo mundo, o que é muito
raro, imagina na década de 1980, quando eu cresci e tive de entender o que era
ser julgado antes de abrir a boca.
Lembro também de quando Paulo foi acusado de racismo por
encarnar a personagem Ivonete, em que pintava a pele para parecer uma mulher
negra. Black face era o nome
importado da prática racista, porque agora nossa moral é toda importada dos Estados
Unidos da América (vide bullying, mansplaining e outras chatices). Paulo
foi elegante, admitiu o erro e mudou a personagem. Em alguns outros momentos, o
comediante – ora, quem diria... – agiu com a mesma seriedade e com o mesmo
respeito com o público tentando se encaixar no politicamente correto para
aprender e para não ofender ninguém.
Sem entrar no mérito da questão, não lembro de outro
humorista fazendo isso, mas me lembro muito bem de várias “piadas” sem graça na
televisão que me ofendiam pessoalmente quando eu era bem jovem. Lembro de ver,
em uma peça de teatro no Beto Carrero
World, um personagem visivelmente homossexual e negro levar um soco de um
caubói só porque dançou na frente dele. A plateia caiu na gargalhada. Aparentemente
é muito engraçado ver um homossexual sofrendo violência. Paulo Gustavo representou
um passo gigantesco na mudança dessa mentalidade.
Hoje em dia é comum acusar uma pessoa de oportunismo
quando ela usa um assunto grave ou importante para tocar no assunto “política”.
Eu afirmo com todas as letras que esse tipo de acusação só pode vir de gente
sem caráter. Porque tudo é política, inclusive a morte de um grande artista que
entristeceu o país no dia de hoje. Se aquele lixo não estivesse na presidência da
república do meu país, muito provavelmente Paulo Gustavo teria sido vacinado
antes de morrer. Agora só falta o Brasil, o mesmo Brasil que reverencia Paulo
Gustavo, enxergar o assassino que nos governa para um dia, quem sabe, podermos
evitar a morte de tanta gente importante para a criação de um futuro melhor.
Aquele merdinha lá que eu nem quero citar o nome, o Capitão Cloroquina, esse
bosta não morre nunca de nada, né? Lixo...
Não estava na hora de Paulo Gustavo partir. É um filho da
mãe mesmo...
Foto minha. |
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻... como sempre, arrasando no texto...
ResponderExcluirBacana seu texto. Foi uma grande perda. Muito triste.😔
ResponderExcluirDisse tudo e mais um pouco. É um pesadelo o que estamos vivendo.
ResponderExcluirEle sera sempre lembrado, quebrou todas as barreiras de preconceito que existia. Talento nao se cria vem de berco, independente de crencas e opcao sexual. 🙋♀️🙋♀️🙋♀️👏👏👏👏 ele sera sempre esse 💎💎💎💎 la no ceu.
ResponderExcluirBom texto! Obrigada!
ResponderExcluirNão consta o nome do autor...
ResponderExcluirGostaria de saber o nome do autor do excelente texto?
O autor sou eu mesmo.
ExcluirHomenagem sensível à grandeza do ser humano Paulo Gustavo.
ResponderExcluirMuito fera.
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