NARA TROPICAL

 

 

            Nara Leão ficou conhecida como a musa da bossa nova, mas a verdade é que a cantora encarnou muito mais que esse personagem em sua obra. Aliás, poucos bossanovistas se aventuraram por outros ritmos e estilos, pelo menos não tanto quanto a musa da bossa nova. O disco de 1968, conhecido como o disco tropicalista de Nara Leão, é um excelente exemplo disso. Aliás, Nara já figurava entre tropicalistas mais óbvios como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes no seminal álbum coletivo Tropicalia ou Panis et Circencis. Lindonéia, a faixa que Nara canta no Tropicalia, também está presente em seu álbum de 1968. Mesma gravação.   

            No Tropicalia também ficamos conhecendo uma das características mais marcantes do movimento: a paródia. Mas não é aquela paródia estilo trocar a letra do Hino Nacional por palavras indecentes. A paródia tropicalista é muito mais uma homenagem respeitosa a algum autor de uma geração anterior sem deixar de revelar alguma graça na execução. No Tropicalia, Três Caravelas e Coração Materno fazem esse papel. Outra com mais cara de paródia seria a gravação de Chão de Estrelas pelos Mutantes. O álbum de Nara é mais uma compilação desse tipo de homenagem com arranjos e regência de Rogério Duprat, o maestro tropicalista por excelência.

            Mas tem também Lindonéia, como já dito antes, de Caetano Veloso, Mamãe Coragem, de Caetano e Torquato Neto, canção que também está no Tropicalia, porém na voz da Gal, e Deus Vos Salve Esta Casa Santa, também de Caetano e Torquato. Os passeios de Nara por gerações antigas de compositores, no entanto, vão longe. Tão longe quanto o século 19, por exemplo. E aí dizer que este é o álbum tropicalista de Nara Leão talvez seja dizer pouco. Não que ele não seja. Só que ele não é só isso. É também um álbum de pesquisa histórica muito sofisticado e bem elaborado. E com arrojo! Moderno! Uma combinação difícil de se alcançar em uma obra de arte.

            Nara Leão foi uma das pessoas em quem eu pensei quando da morte do comediante Paulo Gustavo. Ela também morreu jovem, aos 47 anos, de um tumor no cérebro, em 1989. Essas pessoas nos dão a estranha e terrível sensação de que quem é bom morre cedo. De qualquer modo, fica aí a recomendação de um excelente álbum e uma foto da contracapa do disco que contém apresentações escritas para cada faixa. Muito interessante.




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