CAPAS E AFINS
            Hoje eu vou começar uma série de artigos bem mais
despretensiosos que os anteriores. É óbvio que todo colecionador de disco curte
música e acredito que este seja o primeiro motivo para a compra de um LP. Pelo
menos é assim pra mim. Mas não vamos negar que existe um fetiche pelo objeto,
né? E alguns deles capricham. Então aqui eu vou começar a postar fotos e
comentar a arte da capa de alguns discos, bem como outras curiosidades da minha
modesta mas amada coleção, como discos com cores diferentes, encartes e afins.
Por isso o título.
            O primeiro que eu gostaria de comentar é o Tl3s (2012),
da Adriana Partimpim, alter ego infantil
da Calcanhotto, e seu lindo disco amarelo, colorido como reza a tradição de
discos infantis. A arte gráfica é de Fernanda Villa-Lobos. Curiosidade:
Fernanda é mulher do Dado Villa-Lobos, do Legião Urbana. Dado, por sua vez, é
sobrinho-neto do compositor clássico Heitor Villa-Lobos. Não foi nesse disco,
mas Partimpim já gravou a famosa Trenzinho
do Caipira, composta por Heitor, com letra do poeta Ferreira Gullar. Um
luxo!
O segundo é um disco que, na época, só estava à venda nos shows do cantor. É o Disco, do Arnaldo Antunes, de 2013. Arnaldo e suas brincadeiras poéticas e visuais autorreferentes. O disco se chama Disco e, na capa, a foto de um disco, porém transparente sobre fundo branco. Lindo. E o disco? Transparente, claro, além de duplo. Comprei esse entrando em contato com a equipe do Arnaldo por e-mail, já que eu queria o disco, mas não tinha previsão de show do cantor por perto. A título de curiosidade, lembro que na época paguei R$ 120,00. Hoje não tem nenhum no Discogs e o único à venda no Mercado Livre está por R$ 1.500,00! Seguem fotos dessa belezura, com projeto gráfico de Marcia Xavier e Anna Turra.
            O terceiro é, na verdade, os terceiros. O primeiro
lançamento da banda Blitz é o compacto Você
Não Soube Me Amar, e a curiosidade fica por conta do lado B, em que se ouve
apenas a voz do líder da banda Evandro Mesquita, repetindo a palavra nada, retirada da faixa principal. Eu
ganhei esse disquinho de uma amiga. Antes de tocar, eu perguntei pra ela o que
tinha do lado B. Ela respondeu “nada”. Mas logo em seguida eles lançaram o As Aventuras da Blitz, e aí as
curiosidades são duas. A primeira é o almanaque que vinha junto com o LP,
divertidíssimo. A segunda é as duas faixas censuradas para execução pública no
final do lado B, que foram riscadas na matriz e, portanto, todos os discos
foram impressos riscados como forma de protesto. Não dá pra ouvir as últimas
faixas, pelo menos não sem estragar muito a agulha. De qualquer modo, antes
dessas duas tragédias, temos um locked
groove – lembram dele (quem não lembra leia o artigo intitulado O
Ultra LP de Jack White, aqui neste mesmo blog)? Uma gracinha do
Evandro, meio que reclamando da injustiça da censura às duas faixas, porém com
um texto nada sério, precede este locked
groove. As duas faixas seriam lançadas em seguida em compacto. Tudo isso em
1982.
            Aliás, a Blitz sempre caprichou nas capas. A do terceiro
disco, chamado simplesmente de 3, de
1984, vinha em três cores diferentes: verde, vermelha ou amarela, e, além do
encarte, também vinham cards
destacáveis com fotos dos membros da banda e todo aquele universo visual pop comum à banda. Ah, a capa também
tinha alto-relevo, uma inovação para a época. Toda a arte da Blitz dessa época
estava a cargo de Gringo Cardia e Luiz Stein.
            É claro que eu tenho o discobjeto do Transa, de
1972. Eu nem acho o resultado tão bonito assim (a música, no entanto, é
estonteante), mas é claro que o item é uma peça adorada da minha coleção. O
projeto gráfico é de Álvaro Guimarães.
Mais uma capa criativa do Caetano é a do Cores Nomes, de 1982. Na frente, o nome CORES aparece vazado e é preenchido por palavras impressas no envelope interno. Atrás, porém de cabeça pra baixo, o mesmo efeito faz Caetano e seu pai se beijarem na boca! Capa de Luciano Figueiredo e Oscar Ramos.
Da capa de Circuladô, de 1991, nem é preciso dizer nada. Ela arrasa sozinha. A capa é do próprio Caetano e é linda. Ponto. O disco também é foda. MAS eu tenho um quadro com ela na minha sala de estar que me foi dado pelo meu querido amigo Rodrigo Ferreira. Morram de inveja...
Essa virou meme. Segundo este site, a gravadora queria uma foto do Chico sorrindo, porque ele parecia mais bonito assim, para a capa do seu primeiro disco, de 1966. Chico, um jovem músico em início de carreira, queria parecer sério na capa. Como um músico sério. Aí a gravadora resolveu atender todo mundo e colocou as duas. Eu, da minha parte, sempre pensei que fosse uma referência ao teatro (as máscaras da comédia e da tragédia), sempre fez sentido pra mim porque o Chico começou a carreira musicando Morte e Vida Severina, o longo e lindo poema do poeta carioca (que não gosta de música) João Cabral de Melo Neto, para o teatro, e escreveria mais tarde peças de teatro etc. Mas enfim. Não era nada disso...
Ainda sobre Chico Buarque, eu acho demais toda a arte gráfica do excepcional disco Almanaque. Lançado no finalzinho de 1981, a capa trazia aquele rosto lindo com aqueles olhos... e um calendário de 1982, tudo no estilo almanaque de farmácia. Atrás, o horóscopo. E o encarte trazia várias brincadeiras. A mais intrigante, para mim, é a letra de As Vitrines espelhada. Porém, em alguns versos, com todas as letras trocadas de lugar, sem repetir nem faltar nenhuma, formando outros versos. Assim, e sair da sessão frouxa de rir vira errar sisuda sã fora de eixos, por exemplo. São exatamente as mesmas letras. Genial como só Chico Buarque sabe ser. Eu tenho certeza que alguém tem esse disco e nem tinha notado isso ainda.
Para encerrar, por hoje, ainda com Chico, Paratodos, de 1993, e a foto da prisão. A capa traz as fotos tiradas pela polícia quando prenderam o menor Francisco Buarque de Hollanda, 17 anos, por furto de automóvel. E este álbum tem uma música sobre a foto chamada A Foto da Capa.
Quando tive a ideia de fazer um artigo não sobre as músicas, mas sobre a materialidade do objeto LP, eu fui lá na minha coleçãozinha escolher sobre quais discos falar. Claro que você já percebeu que ela está em ordem alfabética, né? De Adriana a Chico. E nem saímos do C ainda. Foi aí que eu vi que não seria um artigo só. Talvez isso nem seja um artigo, sei lá... Mas, seja o que for, não vai ser um. Amanhã começamos com D de Doces Bárbaros.
























Muito legal. Não sabia que a Adriana Calcanhoto se apresentou com pseudônimo... Espero que as pessoas não saibam o teu endereço para não te assaltar, quando mencionas os valores dessas obras que tens em casa!!!!!
ResponderExcluirPrá falar a verdade não tinha percebido essa inversão hahaah. " e sair da sessão frouxa de rir vira errar sisuda sã fora de eixos".
ResponderExcluirTem várias outras na letra toda!
ExcluirJÓIA!
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