VIVA SANTANA

 


            Pelo que eu entendi nas minhas buscas na web, este álbum foi lançado no mundo com outra capa (branca, com foto do músico), em 1974, e no Brasil com esta capa aí da foto em 1976. Esta capa é curiosa, pois, por alguns anos desde a minha infância, eu não conseguia compreendê-la. Só mais tarde uma pessoa conseguiu me mostrar a verdade: trata-se de duas fotos sobrepostas, uma da praia e uma da moça loira apoiando um braço em uma espécie de tambor. A parte branca e oval bem na barriga dela, que acaba deixando transparecer a foto da praia, causa a confusão, mas é só o couro do instrumento, cujo corpo se alonga para a direita da imagem. Outra curiosidade sobre a minha infância ouvindo esse disco é que eu tinha um certo medo dele. Como é uma música muito potente, carregada de emoção, com o músico gritando entre elas, muito batuque etc., eu, criança, achava que ele podia ser obra de algum tipo de feitiçaria, sei lá... mal sabia que era mesmo. Lembro-me ainda que, ao procurar elementos na capa para me tranquilizar, dava com o nome Beethoven como compositor de Eliza e concluía que era só um disco normal de música. Coisa de criança. Mas de criança que já entrava em transe com música boa e nem sabia.

            Perez Prado foi um bandleader, pianista, compositor e arranjador cubano que popularizou o mambo nos anos 1950. Tem música dele no clássico La Dolce Vita, do diretor italiano Federico Fellini. Por fazer muito sucesso no mundo todo e até aparecer em filmes de Hollywood, ganhou o apelido de Rei do Mambo. Aqui no Brasil, e entre nós jovens mas nem tanto, quem conhece o álbum Omaggio a Federico e Giulietta, do Caetano Veloso, conhece a deliciosa canção Patricia, composta por Prado.

            Eu não sou grande conhecedor de música cubana, nem de Perez Prado, muito menos de mambo. Portanto, esse deve ser o artigo mais curtinho aqui, por falta de conhecimento do autor mesmo. Porém esse disco me acompanha desde a infância, e eu acho ele tão incrível, tão mágico, tão emocionante, surpreendente e, principalmente, divertido, que eu não poderia deixar de falar dele aqui.

            A primeira faixa, Viva Santana, é longa, tem 9min, e é incrível! Divertidíssima. A segunda, Café com Leche, é mais divertida ainda, com seus “ingredientes” que misturam culinária com vodu. Ben é aquela que ficou famosa na voz de Michael Jackson, a música sobre a amizade com um ratinho, porém aqui sem letra. El Sapo é um mambo mambo mesmo. Brasil 74 é a homenagem de Prado ao nosso país, especialmente ao nosso futebol: é bem a cara de uma música composta por um “mambeiro” querendo fazer samba (ou, antes, homenageá-lo). Ficou uma delícia também. Suave começa com uma introdução falada do compositor apresentando sua música, tanto em inglês quanto em espanhol. Depois a canção começa e ela é suave mesmo, além de linda. Eliza, na verdade, é Pour Elise, do Beethoven, aqui transformada em um mambo com um teclado bem aguado. Mas não se engane: é igualmente deliciosa como o disco inteiro. Canuto é festiva, dançante e vem antes da faixa mais diferentona do álbum: Vivir por Vivir, que poderia ser trilha sonora de um filme de Hitchcock, mas é só uma versão original de uma composição do francês Francis Lai para a trilha sonora do filme de mesmo nome (porém em francês): Vivre pour Vivre, de 1967. Curiosamente, a última faixa, Mi Guera Linda, poderia ser a abertura da série Família Adams. Só diversão este álbum. E música de primeira qualidade. Primeiríssima. Se você não curte ritmos latinos, ou acha meio chatinho por ser tudo muito igual, ouve esse álbum. Só esse.



Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

GILBERTO GIL AO VIVO

 O DISCO DO SHOW DA PRISÃO

FILHO DA MÃE