RECORD SLEEVES AND SUCH

 

            Eu não sou um grande fã de música internacional. Meu negócio é Música Popular Brasileira mesmo. Mas é claro que uma coisinha ou outra a gente sempre curte. Como sou neurótico obsessivo, quando passo a curtir “uma coisinha ou outra”, vou até o fim, pesquisando a discografia completa do artista e acabo me tornando grande fã. Esse artigo de hoje é sobre projetos gráficos de álbuns gringos que eu curto. Mas acho que vai servir mais mesmo pra ficarem conhecendo melhor meus limitados gostos pessoais.

            Antes, no entanto, uma exceção (lista boa é a que começa com exceção): eu esqueci de mencionar no último artigo o único picture disc da minha coleção. Nunca tive muito interesse nesse formato, mas, pra não dizer que não tenho um, comprei um baratinho de Natal no Mercado Livre. Feliz Natal é um disco sem informações sobre os artistas presentes no álbum nem sobre o ano. Dando uma pesquisada na net, encontrei a informação de que se trata de um tal de Silvio Solis, que parece ter lançado somente discos de Natal no começo dos anos 1980. A produção de arte, no entanto, é de Maria Cambraia Fernandes.




            The Beatles

            Eu tenho aquela caixa bonitona dos Beatles com a discografia completa em vinil stereo. Mas, antes de comprá-la, eu já havia procurado e comprado uma edição do Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band que tivesse o famoso locked groove (gravação no último sulco do disco, que volta sempre ao mesmo ponto e, por isso, repete a mesma coisa ad infinitum). Nesse dos Beatles, esse locked groove é no final do lado B. Como a maioria das edições não tem esse special feature, eu comprei uma - pasmem! - nacional que tem. Essa edição – parece que é uma cópia fiel de uma matriz inglesa – é de 1967, da gravadora Odeon, e foi lançada em capa estilo sanduíche, que é aquela capa que vem fechada dentro de uma capa de plástico que não pode ser removida. A minha versão está em ótimas condições, com encarte de recortes completo EM PORTUGUÊS, porém com o plástico da capa bem desgastado. Se eu encontrasse alguém que trocasse esse plástico, tenho certeza de que ela ficaria com cara de novinha. A capa todo mundo já conhece, claro. Criação de MC Productions e The Apple (a dos Beatles, naturalmente).



           

            Björk

            Björk Guðmundsdóttir – cantora e compositora islandesa de que sou muito fã – é diva, e sempre caprichou muito no material gráfico de seus álbuns, especialmente os lançados em LP, mas no álbum Volta (2007) ela se superou. O álbum contém cinco envelopes internos – um dentro do outro (uma verdadeira boneca russa) –, de papel grosso, cada um de uma cor, mais dois de papel mais fino, cada um com um disco dentro. A capa também é inovadora: pode ser aberta por cima através de uma aba, como um envelope, mas, para os mais corajosos, a capa é cortada bem no meio e colada com um adesivo. Eu que não vou cortar nem retirar o meu.






            Outro álbum da Björk que eu acho lindo é o Vulnicura (2015). Uma capa de plástico transparente com um desenho que esconde a verdadeira capa, de papel. Lindão. As duas artes são da M/M (Paris).




           

            David Bowie

            A capa de disco mais bonita do David Bowie, na minha opinião, é a capa britânica de The Man Who Sold the World, de 1971 (ele chegou a ser lançado primeiro nos EUA com uma capa diferente, em 1970). O papel da capa não é texturizado, mas imita uma tela de pintura. A imagem – Bowie de cabelos longos, usando um vestido, deitado em um divã, e um monte de cartas de baralho espalhadas no chão – também recebeu tratamento para parecer uma pintura. David Bowie elegantérrimo como sempre... A foto da capa é de um tal de Keith MacMillan e tem um artigo muito interessante sobre este álbum aqui.



            Claro que não dá pra falar de capas de David Bowie sem ao menos citar a icônica arte do álbum Aladdin Sane (1973), que todo mundo acho que já viu alguma vez na vida. Arte de Duffy e Celia Philo.



            No entanto, todo fã sabe que icônica mesmo é a capa do Diamond Dogs, de 1974. A capa mostra Bowie deitado de bruços sem camisa. E a contracapa os quadris e as pernas de um cachorro. Ao abrir a capa dupla, vemos o híbrido bowie-cachorro completo deitado na frente de um cartaz com mulheres-porco (?) e o anúncio, talvez de um circo de horrores: “as mais estranhas curiosidades vivas” (the strangest living curiosities). O projeto da capa de papel brilhante é de uma empresa chamada AGI e o desenho da criatura é de Guy Peellaert. O álbum é incrível, apesar de ser um projeto frustrado de um musical sobre o livro 1984, de George Orwell. Tem até uma música chamada Big Brother...



            Ainda falando de David Bowie, a capa de seu álbum The Next Day (2013) deu o que falar. Ela consiste simplesmente de uma reprodução da capa de outro álbum seu, de 1977, chamado Heroes, com um quadrado branco por cima apresentando o nome do álbum. Parecia feita no Paint. Quando as músicas estavam em pré-venda, muita gente pensou que aquela capa era provisória. Não era. A contracapa segue o mesmo padrão: a contracapa de Heroes com um quadrado branco contendo os nomes das músicas. Horrível. No bom sentido, claro, especialmente para quem curte arte corajosa, meu caso. Qualquer fã, na hora, lembra da letra da faixa Heroes, que diz que nós podemos ser heróis só por um dia. E associa esse verso ao título do novo álbum: “o dia seguinte”. We can be heroes just for one day. [However...]. Curiosidade: esse álbum em vinil vem com um CD dentro com as músicas do álbum. Isso mesmo. Um CD num envelopinho branco. Capa de Jonathan Barnbrook, o mesmo que fez as capas de Heathen, Reality e Mas não acabou por aí. Foi lançado também um single contendo a primeira faixa do álbum, com o mesmo nome dele, em formato shaped disc (o que pode ser definido, basicamente, como um disco que não é redondo – apesar de tocar exatamente como um redondo, não se espante). Ainda na linha quadrado branco, o disco é um quadrado branco que toca redondo a 45rpm e tem a mesma faixa dos dois lados. Esse eu comprei na mesma época do Feliz Natal (viu?, foi até bom que ele tenha ficado nesse artigo...) porque, além de um picture disc, eu queria ter um shaped disc. Só um de cada.







            E , caso você esteja se perguntando, é um álbum de 2016, também conhecido como Blackstar. Esse também é horrível, mas em outro sentido. Também bom, de certo modo, porque, apesar de ser um álbum sobre o processo de decadência e morte do cantor em decorrência de um câncer, é uma obra-prima. O tipo de disco que se esperava como o último disco de um mito como David Bowie. Em outras palavras, à altura de seu gênio. Bowie, inclusive, faleceu dois dias depois do lançamento, algo bem traumatizante para um fã, especialmente porque tudo foi mantido em segredo, inclusive a doença. Um dia eu acordei e tinha um álbum novo incrível de David Bowie na praça. Dois dias depois, eu acordei e li que ele estava morto. Agora, toda vez que decido ouvi-lo, só consigo pensar que todo ele é sobre a morte do cara que está cantando. Pesado. Pensa... Claro que um dia eu vou ter de escrever um artigo só sobre isso. A arte do álbum, linda, é de uma empresa chamada Barnbrook.





Mais ou menos um ano depois foi lançado um EP póstumo com três faixas inéditas da mesma safra de . A minha versão tem um vinil azul translúcido lindo. Curiosidade: as quatro faixas deste EP estão impressas do lado A. O lado B é liso. Barnbrook de novo.


 

Dirty Projectors

O louquíssimo EP Mount Wittenberg Orca, da banda americana Dirty Projectors, lançado em 2010, mas só lançado em vinil no ano seguinte, tem uma linda capa com efeito 3D (que não dá pra fotografar, sinto muito). Quando da ocasião da venda online dos vinis, o álbum ainda incluía um mini pôster com autógrafos de todos os integrantes da banda. Claro que eu só comprei porque tem participação da Björk em três ou quatro faixas. Não, não tem autógrafo da Björk. Triste.


 

Kraftwerk

A capa do disco Radio-Activity (1975), álbum muito experimental do quarteto eletrônico alemão Kraftwerk, até que é interessante, com capa e contracapa mostrando a frente e a traseira de um aparelho de rádio antigo. Porém, o que mais me chama a atenção neste disco é a introdução dele, uma faixa chamada Geiger Counter. Para quem não está familiarizado, contador Geiger é um instrumento para medir radiação. À medida que o instrumento se aproxima de uma área radioativa, ele começa a intensificar cada vez mais um barulhinho irritante. Bom. A primeira faixa, como já disse, chama-se Geiger Counter e, à medida que vai tocando – portanto, à medida que a agulha vai se aproximando da segunda faixa –, o som vai acusando cada vez mais radiação. A segunda faixa se chama justamente Radioactivity. Eu não sei de quem é a arte do álbum.



 Andy Warhol

Caso alguém ainda não saiba, Andy Warhol foi um artista plástico americano muito famoso, criador da pop art – você já deve ter visto uma marilyn ou uma lata de sopa dele por aí, só não está ligando o nome à pessoa. Ele fez duas capas de discos que eu acho incríveis. A primeira, claro, é a capa do álbum The Velvet Underground & Nico (1967), produzido pelo próprio Warhol. A capa branca consistia somente de uma banana amarela e a frase: descasque lentamente e veja. Ao se aproximar, o cara via que era um adesivo. Se puxasse, descobria a banana descascada. Porém, com cor de carne. Infelizmente, a minha versão é um relançamento japonês. Mas a bananinha descascável está lá. Só não vou tirar pra não estragar, claro...



A outra é a do Sticky Fingers, álbum dos Rolling Stones lançado em 1971. Uma calça masculina com zíper de verdade, bem no estilo quasipornô de Warhol. Ao abrir o zíper, um quadril masculino de cueca com a assinatura Andy Warhol.

 




Para finalizar com humor, apresento-vos uma capa de um disco de música clássica – Mozart, para ser mais exato – com um soutien preto. Do nada.






Esse ficou grandão, né?... Parar com isso...


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