CAPAS E AFINS 3
Continuando a série sobre discos com projetos gráficos interessantes, começo falando do Mais, da Marisa Monte, lançado em 1991. A capa, exclusiva na versão em vinil, vem com vários sinais de mais (+) destacáveis, tanto na frente quanto atrás. Como o encarte também possuía o desenho dos mesmos sinais nas mesmas posições, quem destacasse os mais da capa veria seu espaço preenchido pelo do encarte no fundo. Muita gente fez isso, estragando a capa do disco, o que fez valorizar os que ainda permanecem completos. No caso, com nenhum mais a menos. O projeto gráfico é de Cláudio Torres.
      O projeto gráfico do Milagre
dos Peixes (1973), do Milton Nascimento, é um arraso! A capa se desdobra em
um pôster oval gigante. De um lado, mãos negras seguram um bebê. Do outro, uma
foto do Milton criança vestido de marinheiro. Dentro, um envelope roxo com o
álbum (disco de 12 polegadas), um compacto (7 polegadas) e cinco encartes, cada
um com uma cor e um tamanho diferente, de modo que, ao serem acomodados na
ordem e no local certos do envelope roxo, formam um arco-íris. Lindo demais. O
disco em si vocês já devem saber que é excepcional. Acho que um dia vou
escrever um artigo somente sobre ele. A capa é de um tal de Noguchi.
Mas a capa mais linda de um disco do Milton é, sem dúvida, a do Geraes, de 1976. O disco, claro, também é incrível. A capa, feita de papel estilo pardo, traz um desenho – que você já deve ter visto – feito pelo próprio Milton de um trenzinho maria-fumaça sob um morro em formato de M de Milton (e de Minas também) e um sol. Tudo muito simples, mas bem no estilo “já entendeu Milton Nascimento ou quer que eu desenhe?”. Esse desenho, no entanto, é impresso em tinta prateada. Sobre o papel pardo, o desenho brilhante ganhou destaque e ficou mais bonito ainda. Atrás (e só atrás), os nomes do disco e do cantor em letras garrafais também prateadas. A capa ainda é dupla e, em seu interior, há uma foto de uma plateia em meio a árvores. Bem caprichado mesmo. Arte da capa ao som. Capa de Cafi, Noguchi e Ronaldo Bastos.
            Outro disco que também trazia um compacto era o Água do Céu – Pássaro, de 1975. Nome bem
estranho para um disco, mesmo sendo do Ney Matogrosso. Mas o disco é todo
estranho. A capa também é de papelão grosso estilo papel pardo com um outro
papel colado na frente com uma foto e o nome do cantor. Atrás, impresso no
papel cartão mesmo, um símbolo estranho e o nome do disco. A capa dupla se
abria para mostrar várias fotos incríveis do Ney com o figurino do disco. As
estranhezas continuam para quem coloca o disco para tocar. Antes de começar a
primeira música, mais de um minuto e meio de sons da floresta. O compacto traz
duas canções lindas do compositor argentino Astor Piazzolla. A capa é de Rubens
Gerchman.
Eu não sei se a capa do Acabou Chorare (1972), dos Novos Baianos, é bonita mesmo ou só icônica. De qualquer modo, tenho mó orgulho do meu disquinho. O encarte é grudado dentro da capa dupla e o som vocês com certeza já conhecem. E sabem. A produção gráfica é de Antonio Luis.
            A capa do Cavalo,
do Rodrigo Amarante, de 2013, traz uma inovação para a qual muitos compradores
podem ter torcido o nariz. Não tem capa. O disco vem dentro do envelope com as
letras das músicas. Eu, que adoro “arte corajosa”, adorei. Projeto de Osk
Studio.
            O que eu acho mais incrível na capa do segundo disco dos
Secos & Molhados (1974), além do fato de ela ser texturizada, é que não tem nada escrito nem na frente nem atrás.
Aliás, a contracapa é completamente preta. Não tem o nome da banda, nem o nome
do disco, nem o nome da gravadora, nada. Nenhuma palavra. Eu nunca vi nenhum
outro disco assim. A arte é de Sergio Grecu e Oscar Paolillo.
O Canções Eróticas de Ninar, do Tom Zé, lançado em 2016, além do título divertido, tem também uma capa divertida, com um buraco representando um buraco de fechadura – embora seja o desenho do símbolo da mulher (♀) – por onde o olho do cantor e compositor, fotografado e impresso no envelope interno, espia. De certo modo, acho que essa arte faz referência à famosa capa do clássico Todos os Olhos, também do Tom Zé. Mas aí a história (grande) é outra... Capa de Elifas Andreato (já mandei guardar esse nome, não esquece), Dennis Vecchione e João Rocha Rodrigues.
            Eu tenho aqui em casa duas versões do clássico A Arca de Noé, disco infantil com poemas
de Vinícius de Moraes, do livro de mesmo nome, musicados – a maioria por
Toquinho – e cantados por diversos artistas. A mais comum, que talvez vocês
conheçam, traz a capa branca e o envelope interno com desenhos da arca e dos
animais para recortar e colar na capa. A outra versão tem tudo isso – embora o
envelope interno não caiba na “capa” – mais uma sobrecapa e um encarte grande
com 32 páginas, muitos desenhos e as letras das músicas. Bem bonitão mesmo.
            Já o Arca de Noé 2,
continuação do mesmo projeto, vem já com o desenho da arca na capa e um encarte
só com os bichos para recortar, além de um envelope com as letras das músicas.
A beleza extra – tradição em discos infantis – é o disco colorido. Ele foi
vendido em algumas cores sortidas, não tinha como escolher. Tenho um amarelo e
um rosa, mas já vi à venda um roxo bem bonitão. As duas versões são projetos
gráficos de Elifas Andreato. De novo. 
            O próximo e último artigo sobre projetos gráficos de LPs
será sobre artistas internacionais. Até amanhã.






















Comentários
Postar um comentário